4 de dez. de 2009

RE-FAZENDO O CAMINHO DE SANTIAGO

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Recebemos belíssima crônica de Nilton, amigo médico (especialista tanto em salvação quanto em saúde) que organiza a Caminhada de Santo Amaro e acaba de refazer o Caminho de Santiago...

Volver ao Caminho! Volvi ao Caminho de Santiago de Compostela após sete anos; desta vez para realizar a rota aragonesa do Caminho Francês que tem como porta de entrada Somport, El Summus Portus (Huesca), que passou a ser chamado como Caminho Aragonês. O silêncio, a solidão e a rusticidade de suas etapas reproduzem o verdadeiro caminho medieval.

Parti da pequena e simpática vila de Urdós, na França, cerca de 15 km da fronteira franco-espanhola, com a finalidade de vivenciar a subida dos Pirineus. A escolha foi perfeita!

Quando da preparação para este novo itinerário, após planejar as etapas e assegurar-me dos apetrechos obrigatórios: mochila, botas, cajado, materiais; passei ao preparo espiritual.

Certo estava de que cada caminho é um novo caminho. Você escolhe o roteiro, mas o caminho é que te conduz, e só ele sabe o que está reservado para cada caminhante. Só nos resta nos municiarmos de energias positivas e em oração suplicar a intercessão de Santiago junto a Deus, para que tudo ocorra a contento. Assim procedi. Pedi com fervor à Providência que me desse o dom da paciência, da humildade e da simplicidade. Que na convivência de cada dia me tornasse fraterno ao companheiro que caminha ao lado; que concluísse toda a peregrinação ileso e que não me faltasse a compreensão e etc.

Ledo engano! Só mais tarde vim a entender que Deus não tem bodega ou “tienda” suprida de fórmulas mágicas em potes dourados para atender nossos particulares e individualistas desejos.

O caminho mostrou-me uma outra direção a seguir, mais estreita, porém mais sólida; que havia rosas mas também espinhos; com chuva e ventos fortes que foram desfeitos pelo arco-íris; muitas das vezes com nebulosas e escuras manhãs que cessaram com o brilho do sol nascente.

Em vez de uma passiva paciência, deu-me a oportunidade de servir pacientemente aos que procuraram os meus serviços. Enquanto fazia o necessário, aprendi mais quando presenciei outros oferecendo seus serviços, sem serem solicitados. Aprendi com o companheiro do lado o exercício da fraternidade quando, sem pestanejar, cedeu todo seu lanche a um peregrino que ainda não havia encontrado um lugar para a primeira refeição do dia. Em outro momento, aprendi a prática da misericórdia em testemunhar o atendimento a um desconhecido peregrino que mancava de dor, dando-lhe o conforto de um analgésico e cedendo suas bandagens. Aprendi o forte vínculo de uma amizade, na preocupação e nos cuidados que recebi. Aprendi como é doce chamar o companheiro pelo seu próprio nome. Essas pessoas enxergavam mais longe do que eu.

Do meu pragmatismo de ver a vida, aprendi com humildade o que é ser afetivo e solidário.
Deus atendeu como Pai que deseja a felicidade do filho. E a presença invisível de Santiago foi Seu mensageiro, suprindo com o necessário, na dosagem certa, e no momento exato.

Enfim, um grande ensinamento: o Real é o caminho que representa as etapas que buscam o autoconhecimento e a paz interior; o Simbólico, o próprio Santiago que nos convida à peregrinação enriquecedora; e o Imaginário... Ah! O imaginário, esse transcende os limites, dá asas à imaginação e nos aproxima de Deus.

Bons caminhos em 2010.
Um abraço peregrino.
Nilton Curvêlo

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