14 de out. de 2011

BAUMAN E O HUMANO PÓS-MODERNO



Neste 15 de outubro, manifestantes de todo o mundo se preparam para expressar a sua indignação contra banqueiros, financistas e políticos, que eles acusam de arruinar a economia mundial e condenar milhões à pobreza e a dificuldades devido à sua ganância. Animados pelo movimento "Ocupe Wall Street", essas marchas por uma mudança global de caráter anticapitalista planejam sair às ruas em várias partes do mundo, da Nova Zelândia ao Alasca, em cidades como Londres, Frankfurt e a própria Nova York. No Recife, uma marcha contra a corrupção já aconteceu no dia 12 e, no dia 15, sábado, os movimentos populares estão convocando uma concentração na Praça do Carmo, em Olinda, às 15h, como forma de participar das marchas mundiais. O nosso blog, solidário à causa, que pode se dissipar por não ter liderança unificada ou objetivo focado, oferece como contribuição às discussões por "um outro mundo possível" este vídeo com depoimento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Gravado em sua casa na cidade de Leeds, Inglaterra, no dia 23 de julho de 2011, pelas equipes brasileiras da CPFL e do Fronteiras, o depoimento trata de expectativas para o século XXI, internet, a necessidade de construção de políticas globais, a construção de uma nova definição de democracia...
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"Um renomado periódico espanhol referiu-se recentemente a Zygmunt Bauman como um dos poucos sociólogos contemporâneos "nos quais ainda se encontram idéias". Opinião semelhante é freqüentemente exposta por críticos de várias partes do mundo quando refletem sobre o pensamento desse intelectual polonês radicado na Inglaterra desde 1971 e empenhado há meio século em "traduzir o mundo em textos", como diz um deles. Indiferente às fronteiras disciplinares, Bauman é um dos líderes da chamada "sociologia humanística", ao lado de Peter Berger, Thomas Luckmann e John O'Neill, entre outros. De um lado, não se encontram em suas obras abstrações ou análises e levantamentos estatísticos; de outro, são ali aproveitadas quaisquer idéias e abordagens que possam ajudá-lo na tarefa de compreender a complexidade e a diversidade da vida humana. Essa é uma das razões pelas quais Bauman tem muito a dizer para uma gama de leitores muito maior do que normalmente se espera de um trabalho de sociologia mais convencional, o que condiz com suas próprias ambições de atingir um público composto de pessoas comuns "esforçando-se para ser humanas" num mundo mais e mais desumano. Como ele gosta de insistir, seu objetivo é mostrar a seus leitores que o mundo pode ser diferente e melhor do que é. (...)

Descrito certa vez como "profeta da pós-modernidade" (com o que não concorda), por suas reflexões sobre as condições do mundo da "modernidade líquida", os temas abordados por Bauman tendem a ser amplos, variados e especialmente focalizados na vida cotidiana de homens e mulheres comuns. Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor, comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz respeito à condição humana. Preocupado com a sina dos oprimidos, Bauman é uma das vozes a permanentemente questionar a ação dos governos neoliberais que promovem e estimulam as chamadas forças do mercado, ao mesmo tempo em que abdicam da responsabilidade de promover a justiça social. "Hoje em dia", lamenta ele, "os maiores obstáculos para a justiça social não são as intenções... invasivas do Estado, mas sua crescente impotência, ajudada e apoiada todos os dias pelo credo que oficialmente adota: o de que 'não há alternativa'". É nesse quadro que se pode entender sua afirmação de que "esse nosso mundo" precisa do socialismo como nunca antes. Mas o socialismo de que Bauman fala, como insiste em esclarecer, não se opõe "a nenhum modelo de sociedade, sob a condição de que essa sociedade teste permanentemente sua habilidade de corrigir as injustiças e de aliviar os sofrimentos que ela própria causou". É nesse sentido que ele define o socialismo como "uma faca afiada prensada contra as flagrantes injustiças da sociedade"." (Entrevista com Zigmunt Bauman, em Tempo Social).

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