2 de jun. de 2012

BENZEDEIRAS RECONHECIDAS

Dona Roseli rezando criança,
pesquisa de Sandro Gomes.
Ainda no começo de 2007, Sandro Roberto de Santana Gomes defendeu no Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP uma dissertação sobre "Saúde e salvação: o sagrado das rezadeiras em Paulista". Partindo de uma pesquisa de campo em cidade da Região Metropolitana do Recife, Sandro mostrou que, na busca pela saúde, muitas pessoas recorrem a práticas religiosas que, ao longo do tempo, foram consideradas estranhas e extravagantes. Lembrou que nossa cultura racionalista perdeu de vista a imensa contribuição que as rezadeiras, ainda hoje, oferecem para a vida de muitos pobres que a elas recorrem em busca de alívio de suas dores materiais e espirituais. A sua dissertação procurou então lançar pontes que possibilitam um diálogo integrador e transdisciplinar das ciências com a vida, advertindo que, nas benzeções, busca-se saúde e se encontra salvação: entre, através e além dessas práticas. Negar a complexidade desse fenômeno é negligenciar a força revitalizadora que anima e fortalece a experiência de crença e de solidariedade que se vê em nossas periferias.

Pois bem, com base em reflexões assim, onde as Ciências da Religião ajudam a criticar a mistificação do sagrado, mas também a valorizar a autêntica religação reverente com o mistério da realidade, a mística verdadeira que está entre e além das religiões, inclusive nas suas tradições populares, é que a nossa sociedade começa a reconhecer, até oficialmente, o trabalho de curar com orações e plantas medicinais. A revista Istoé desta semana noticia que as prefeituras de Rebouças e de São João do Triunfo, no Paraná, sancionaram leis que reconhecem o trabalho das praticantes da chamada saúde popular. Casos pioneiros, deflagrados pelo Movimento de Aprendizes da Sabedoria, organização que até recebeu um prêmio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - órgão federal que já classificou a cura por meios não tradicionais como um patrimônio imaterial da cultura brasileira. Outros lugares também estudam integrar as rezadeiras (no feminino, porque a maioria é de mulheres - por que será?!) aos médicos do Programa Saúde da Família. Isso atesta uma mudança interessante nos costumes nacionais, onde, ao que parece, está fermentando uma equação mais complexa entre fé e ciência...

As rezadeiras também são notícia no Diário de Pernambuco, edição deste domingo, que traz ínclusive uma belíssima galeria de fotos com Albertina Maria da Conceição, 74 anos, que é benzedeira desde os sete anos de idade lá em Salgueiro. Ela aprendeu o ofício com a mãe, uma índia, e o exerce como último recurso contra os males da seca que assola os sertões. A matéria, assinada por Ana Cláudia Dolores, afirma que "... No Sertão de Pernambuco, as rezadeiras são tidas como enfermeiras e até como anjos, cumprindo o papel social de socorrer de pessoas a animais vitimados pela fome ou pela sede em plena caatinga". Essas cuidadoras da saúde popular, porém, bem que merecem mais respeito e cuidado: a própria Albertina, enfraquecida igualmente pela seca, no momento apenas receita chás, porque "... Sente-se fraca para fazer as orações"!
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Veja aqui a matéria na Revista Istoé.
Leia aqui a notícia no Diário de Pernambuco.
Baixe aqui a dissertação de Sandro Gomes.

Um comentário:

  1. Viva quem tem juízo (até pra perceber as razões que ultrapassam a pequena razão do juízo somente!). Universidade é o lugar onde se deve pensar as questões que estarão circulando pela mídia daqui a uma década! Então, viva Sandro e o Mestrado, que o acompanhou nessa exploração de um tema que hoje tá virando sabedoria reconhecida. Edileuza Santos.

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