2 de jul. de 2012

PEREGRINAÇÃO PARA CANUDOS

PEREGRINAÇÃO 2012
Carta aberta às amigas e amigos do Caminho


"Canudos era uma velha fazenda abandonada com palhoça de pau-a-pique, à margem do rio Vasa-Barris ou irapiranga, quando Antônio Conselheiro aí chegou em 1893. Alí os fiéis podiam construir o seu lar, sem se sujeitarem aos caprichos das autoridades policiais nem dos grandes proprietários de terra” (Edmundo Muniz)


Querida irmã e querido irmão!
Muita paz para você!

Deus revelou-se a Abraão, ordenando-lhe: “Vai...”, Ele e Sara, sua mulher, obedientes à voz do Senhor, partiram e fizeram-se, a partir daquele momento, os primeiros peregrinos da fé e da promessa. Outros lhe seguiram os passos! Hoje estamos nós nessa mesma jornada.

O Grupo de Peregrinas e Peregrinos do Nordeste - GPPN - faz uma peregrinação por ano, já há 26 anos. Durante esse tempo já percorremos inúmeros lugares significativos da vida do povo nordestino. Tudo começou com uma peregrinação de Pernambuco às terras do Juazeiro do Padre Cícero - CE. Depois vieram Serra da Barriga de Zumbi - AL, as Casas de Caridade do Padre Ibiapina (vários Estados), Santuário de Bom Jesus da Lapa - BA, as Ligas Camponesas com João Pedro Teixeira - PB. A partir daí não paramos mais de caminhar. A cada ano voltamos para a estrada. Sempre lembrando uma figura significativa de lutas libertárias do povo pobre e elegendo uma região para lá caminhar. Como foi o caso da Zona da Mata com o povo da cana que sofreu com as enchentes, o Rio São Francisco com o polêmico tema da transposição - fomos lá conversar com os ribeirinhos; e assim por diante.

Como são feitas essas viagens? A peregrinação é feita a pé. Não se leva dinheiro nem comida pelo caminho. Nossa prioridade são os mais pobres de cada região. Queremos viver uma experiência de gratuidade e eficácia histórica. Somos um grupo, em torno de 30 membros. Mulheres e homens que se colocam na estrada a serviço dos demais. Somos cristãos de várias igrejas. O centro de nossa espiritualidade é viver uma experiência de Deus no meio do povo mais distante.

A peregrinação de Paulo Afonso a Canudos - BA acontecerá de 7 a 15 de julho de 2012 e tem como objetivo central viver uma experiência a partir da realidade dramática em que vivem os trabalhadores rurais, atualmente e à luz da experiência dos sertanejos de Canudos. Queremos questionar o Estado para que se comprometa com a realização de uma verdadeira Reforma Agrária, trazendo para os pobres do campo a possibilidade da vida e do exercício da plena cidadania. Queremos também denunciar qualquer tipo de violência praticada contra o povo pobre. Nos voltaremos para o povo do campo para que, inspirados em Canudos, continuem sua luta pela conquista da terra e por um modelo de vida que respeite e preserve a mãe terra, a natureza.

Pensar em Canudos é trazer de volta o tema do socialismo religioso pregado por Antônio Conselheiro durante mais de 20 anos no final do século XIX. “Em Canudos de meu padrinho Conselheiro quem chegava tinha comida, trabalho e reza”, ouvíamos de um descendente de Canudos em uma das peregrinações que fizemos para Canudos em 1990. Reviver o caminho de Canudos é sempre apaixonante. Por isso queremos partilhar essa peregrinação com você.

Essa peregrinação será inesquecível! Estaremos caminhando em direção a Canudos na recuperação da memória perigosa do que foi esse movimento. São passados 115 anos do extermínio de Canudos, mas sua memória continua viva no coração do Nordeste. Através da nossa caminhada, Canudos está, outra vez, sendo incorporado aos sonhos do povo, à fé, à cultura. Tornando-se um marco das lutas que vão cultivando as novas experiências igualitárias no sertão nordestino.

Canudos foi a resposta mais criativa do povo sertanejo, tentando livrar-se da condição miserável a que era submetido. E a resposta de Canudos foi através da experiência de fé vivida por António Conselheiro e seu povo. Canudos era um oásis no deserto da fome brasileira. Pouco tempo depois, foi assim no Juazeiro com Padre Cícero, com o Caldeirão do Beato Zé Lourenço e tantas outras experiências vividas no Nordeste.

O fato de Canudos ter resistido até o fim, sem se entregar, comprova o grau de convicção da comunidade de Antônio Conselheiro. O poder da fé religiosa fez aquela gente proceder daquela forma. Coerentes com o que acreditavam e achavam. A fé religiosa, em Canudos, estava a serviço de uma ética baseada na justiça social e no sentimento de liberdade. Canudos vence, agora, nesse sonho redivivo. Viva Canudos! Cantemos com o povo de Canudos: “Alegria povo meu, pois Canudos não morreu, está firme na união, está na fé, no coração”.

Artur Peregrino
José Artur Tavares de Brito é Mestre em Antropologia Cultural pela Universidade Federal de Pernambuco. Possui graduação em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco, graduação em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife. É professor da UNICAP e integrante do grupo de estudo Transdisciplinaridade e Diálogo entre Culturas e Religiões, do nosso Mestrado em Ciências da Religião.

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