4 de set. de 2012

CRISTÃOS NÃO TEÍSTAS?!

Carlos Rodrigues Brandão é graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio. É mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília - UnB e doutor em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo - USP com a tese Os deuses de Itapira. Atualmente, é professor na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Em entrevista à Revista IHU, sobre as religiões no Censo 2010, ele advoga a necessidade de análises mais qualitativas e insiste que é preciso refletir sobre quais formas de se crer, de se praticar e de se viver a religião estão sendo preservadas, transformadas ou surgindo. Veja alguns trechos da sua opinião:

"... Acho que um Censo menos estatístico e mais qualitativamente humano deveria conter uma pergunta assim: “em que ou no que você acredita?” Exemplo: Todos nós sabemos que Albert Einstein abandonou sua fé judaico-teísta de origem para crer no que ele mesmo chamava de uma religião cósmica. Eu mesmo me sinto hoje em dia entre D. Pedro Casaldáliga (um querido amigo e mestre) e Einstein.

(...) Quando converso com vários amigos que foram como eu cristãos católicos engajados em algum movimento de igreja, vejo que uma soma considerável deles (eu incluído) está precisando agora realizar uma espécie de releitura não teísta em sua fé para poder se manter ainda cristão, mesmo que já não mais restritamente... católico. Muitos de nós precisamos crer que o próprio Jesus nunca foi o Cristo; nunca foi um “deus enviado a Terra para nos salvar de nosso próprio pecado coletivo”, para acreditarmos não na mitologia, mas nas substâncias humanas dos evangelhos.

Não precisamos mais de um deus-homem milagreiro que “morreu para nos salvar”, e depois ressuscitou para nos dizer que isso irá acontecer com todos nós (pelo menos com o pequeno rol “dos salvos”). Precisamos de um homem-deus (justamente porque humano) que, entre vários outros, nos diga palavras de sentido e nos envolva de gestos de ternura... para que saibamos como viver e para onde ir, mesmo que não haja “um céu para os eleitos”.

Entre meus alunos, entre amigos, e especialmente entre pessoas do povo com quem convivo, nunca encontrei alguém que diga: “eu não acredito em nada!” E creio mesmo que quando alguém diz isso, diz algo provisório. João Guimarães Rosa lamenta, ainda no Grande sertão: veredas, que “pra muita coisa falta nome”. No caso da religião e do círculo mais amplo (do qual ela faz parte) dos sistemas de sentido, penso que falta mais ainda.

Na sua própria fórmula tradicional, ateu é uma palavra que indica um negativo: “em que você não crê”. No entanto, a maioria dos ateus que conheço acredita profundamente em algo, que não raro me parece ultrapassar as fronteiras de minhas mutantes e indecisas crenças.

E entre aqueles que hoje vejo envolvidos no que no passado costumávamos chamar de obras cristãs, sobretudo as mais substantivamente comprometidas com o povo e a sua história, vejo que ateus, agnósticos, buscadores de fé e cristãos se misturam e interagem muito mais preocupados com “qual o sentido de sua vida e como você vive e age em nome disso?”, do que com “em que Deus você crê para estar aqui ao meu lado fazendo o que eu faço?” (e não faria sem você).

(...) Nós, professores e intelectuais de várias áreas, que em nossas diversas rodas de conversa somos capazes de passar longas e nem sempre fecundas horas discutindo entre nós, seja o momento político mundial ou... “futebol” (com acaloradas tertúlias a partir da confissão aberta de “pra que time eu torço”), temos uma imensa dificuldade de passar do falar da religião em geral, ou da religião dos outros (especialmente a que eu pesquiso) para “a religião (ou aquilo em que) eu creio!” Por quê?..."

Leia aqui a entrevista completa. 

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