2 de nov. de 2012

MORTE E ENSINO RELIGIOSO




Morte e Vida Severina é uma obra prima de João Cabral de Melo Neto. Acima temos a adaptação para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação dá vida e movimento aos personagens desse auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956. Poema dramático que trata da condição humana do homem do Sertão, conta a história de um retirante que vai para o litoral e em cada parada se depara com a morte anônima e coletiva, até chegar ao seu destino final: a cidade de Recife, onde acontece o nascimento de uma criança, símbolo de esperança.

Tem como personagem principal o retirante Severino, que é um ser plural, pois representa todos os deserdados que vivem a vida Severina, sem condições de dignidade, por causa da seca e das cercas. A narrativa possibilita a reflexão sobre a caminhada do sertanejo, que por onde passa faz o registro de toda a situação da vida do povo e da paisagem nordestina, tendo como guia o rio Capibaribe que, como o sertanejo, também sofre, pois no período de estiagem, seca em alguns trechos, dificultando a caminhada pelo Sertão. O objetivo do personagem principal do poema é a busca incessante de vida mais digna do que a morte.

Em abril passado, esse poema também foi trabalhado em nosso Mestrado de Ciências da Religião da UNICAP pela professora Maria Augusta de Sousa Torres, que defendeu com brilhantismo a dissertação "Ensino Religioso e Literatura: um diálogo a partir do Poema Morte e Vida Severina". O trabalho evidenciou a importância da transdisciplinaridade na transposição metodológica dos conteúdos das Ciências da Religião para o Ensino Religioso, enquanto área de conhecimento escolar, mostrando que a Literatura favorece a colaboração entre os saberes e possibilita pontes pedagógicas promissoras.

A pesquisa teve como proposição buscar no imaginário do texto literário noções de identidade através do pertencimento a um grupo social, de ética através do exercício da solidariedade com os necessitados, de religiosidade através da abertura para o sagrado e a transcendência; tendo em vista trabalhar essas noções no fazer pedagógico do Ensino Religioso, para contribuir com a formação integral da vida cidadã. A dissertação colaborou para o reencantamento da educação e a dinamização do Ensino Religioso, a partir do texto poético que favorece a compreensão da experiência de fé, que facilita a compreensão da religiosidade como área em diálogo com as outras áreas de conhecimento na escola. É ainda uma oportunidade para se pensar na vida como enfrentamento da morte, mesmo aquela em "que se morre de fome um pouco por dia". Portanto, uma leitura boa pra esses dias!

Veja aqui a dissertação sobre
ensino religioso e o poema.

Mais no blog:
Nós que aqui estamos...
A vida: eterna? Como?!
Dia dos mortos
Santo cinema
Sentinelas e encomendações

Um comentário:

  1. Parabéns à autora Maria Augusta e ao programa de CR da UNICAP por esta relevante dissertação de mestrado, uma contribuição significativa para a nossa área de Ensino Religioso! Uma interface muito boa entre Literatura e Ensino Religioso. Sou grato pela oportunidade que tive de integrar a banca de defesa desta dissertação e agora pela sua disponibilização online. Abraço virtual, Remí Klein

    ResponderExcluir

Obrigado pela sua participação!