27 de fev. de 2013

HESSEL: VIVAM UMA ESPIRITUALIDADE ABERTA!




Um profeta laico e humanista faleceu nesta madrugada! A história desses jovens que protestam mundo afora por um outro mundo possível, os "Indignados", que se combinam pela internet e saem às praças meio anarquicamente, começou na França e teve como um de seus animadores esse velhinho de 95 anos, Stephane Hessel, que nos últimos tempos escreveu dois panfletos incendiários, "Indignez-vous" e "Engagez-vous". Militante da resistência francesa na última guerra mundial, ele passou por campos de concentração e tornou-se diplomata envolvido com a Declaração dos Direitos do Homem. É amigo da turma da "complexidade" e principalmente de Edgar Morin, com quem escreveu em 2011 "Le Chemin de l'espérance".

Em 2012, Stéphane Hessel publicou três novos livros: "Tous comptes faits... ou presque" (avaliação do seu pensamento, sobre o qual fala no vídeo acima, em francês), "Exigez! un désarmement nucléaire total", e "Vivez! entretiens avec Édouard de Hennezel et Patrice van Eersel". Neste "Vivez!", "Vivam!", o velho militante da esquerda europeia surpreende oferecendo uma entrevista poética, onde defende uma espiritualidade aberta e comprometida: admite a transcendência, mas não o "deus dos monoteísmos".

"Vivez!", sua última obra, rompe modelos em suas 90 páginas. Não é um livro político, mesmo que o tema da universalidade dos direitos humanos ocupe aí um lugar importante. Hessel não crê no deus único que se converte facilmente no deus da tribo dos que creem nele, e que pede aniquilar o deus ou os deuses dos outros. A espiritualidade de Hessel está aberta à transcendência, é acolhedora para o Deus de Todos e não admite que ninguém trate de apoderar-se da experiência do divino. Sua "religião", afinal, são os "direitos humanos"!

Vejam algumas pérolas do livro-entrevista (em tradução nossa): "Sabemos que além da imanência deve haver outra coisa, que podemos definir como uma forma de espiritualidade. (...) Penso que para além da vida material existe um domínio ao qual todos temos acesso, que podemos denominar de diferentes modos, e que 'nos chama' como algo ao qual sabemos que temos direito. Mas para acessá-lo, temos de fazer um certo esforço. (...) Toda aprendizagem necessita algum tipo de exercício no qual deve intervir nossa capacidade de reflexão, junto com nossa vontade e nossa capacidade de ação. (...) Mas se eu necessito de um deus único, este não pode ser mais que 'meu' deus. E sendo o meu 'o verdadeiro deus', o de qualquer outro monoteísmo só pode ser um falsário e é normal combatê-lo. Isto é o que reprovo nos monoteísmos tal como se desenvolveram historicamente...".

Nossas homenagens a esse místico que não tinha religião!
Saiba mais do livro "Vivez" (ainda em francês) por aqui.

Mais no blog:
Indignai-vos!
Tecendo diálogos entre religiões

3 comentários:

  1. O grupo dos que se declaram ateus, agnósticos ou sem religião em todo o mundo só fica atrás daqueles que se dizem cristãos e muçulmanos. Na média, 8 em cada 10 habitantes do planeta se declaram religiosos.
    Os dados são do primeiro relatório Global Religious Landcaspe (Panorama Global da Religião), feito com dados de quase todo o planeta e organizado pelo Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública, parte da organização independente Centro de Pesquisas Pew, em Washington.
    No total, 31,5% da população mundial se considera cristã (incluindo católicos romanos, ortodoxos e protestantes). Em seguida vêm os muçulmanos (sunitas e xiitas), com 23,2% do total.
    Os que se declaram ateus, agnósticos ou não-filiados a alguma religião formam 16,3% da população mundial, percentual superior ao de hindus, 15%, budistas (7,1%), seguidores de religiões étnicas ou folclóricas (5,9%) e judeus (0,2%).
    No Brasil, 7,9% dizem não ter religião ou não acreditar em divindade...

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/12/121218_religioes_mundo_mm.shtml

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  2. Com religião ou sem, para acessar a espiritualidade é preciso esforço... Silêncio absoluto, isolamento e disciplina monástica atraem 120 pessoas para curso de meditação; repórter conta sua experiência:

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/86489-monja-por-dez-dias.shtml

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  3. as novas gerações precisam de heróis doces e fortes que nem esse... obrigado

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