20 de ago. de 2013

UM MASSACRE AO MESSIANISMO




O documentário O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, de Rosemberg Cariry, lançado em 1985, ajuda a gente a recuperar e refletir sobre um massacre ocorrido no Nordeste em 1937, ao movimento sócio-religioso de Caldeirão da Santa Cruz, no Crato-CE. Em 1894 o beato negro paraibano José Lourenço tinha formado uma comunidade que cultivava frutas e cereais no sítio Baixa D’Antas, emprestado pelo padre Cícero. Em 1921 correu o boato de que um boi estava sendo adorado pelos camponeses, o que levou Lourenço à prisão por quase um mês. Os camponeses foram expulsos e seguiram para o sítio do Caldeirão, que também pertencia ao padre. Gente de todo o Nordeste, a maioria vinda do Rio Grande do Norte e de Alagoas, passou a viver de trabalho e oração, produzindo de maneira cooperativa e fazendo a distribuição conforme a necessidade de cada família.

O beato era considerado um homem de Deus, benfeitor e conselheiro, nos moldes do catolicismo popular messiânico. Mas com a morte do padre Cícero, foi tido como comunista e a sua comunidade foi destruída, inclusive bombardeada. Depois do bombardeio, em 1937, policiais continuaram, em terra, a perseguir, prender, torturar e matar pessoas que se vestissem com roupas pretas e carregassem um rosário, características dos seguidores do beato. Lourenço conseguiu fugir, voltou ao Caldeirão em 1938 e lá ficou até ser expulso, em 1940, pelos padres salesianos. Seguiu então para Exu, cidade pernambucana localizada do outro lado da Chapada. Ali formou outra comunidade, no sítio União. Morreu em fevereiro de 1946. Uma história boa para ser pesquisada por quem se interessa pela religiosidade do nosso povo.

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